Consequências na consciência

11/2017

Malditos sejam quando pensaram que a africanidade

Não tinha alma, cidadania ou humanidade

Éramos apenas objetos

e os usos, vocês sabem, eram diversos

E aí vieram tentar pôr ordem aqui e pra fazer isso acontecer

A melhor forma era deixar tudo "bonito" ao nos embranquecer

O discurso da miscigenação era higienista

E hoje ainda persiste o mesmo cunho racista

E apesar de ser negligenciado à educação de qualidade

Sou capaz de ver as relações matemáticas na minha realidade

Visualizo e apesar de não achar racional

Entendo que aqui a relação é diretamente proporcional

Quanto mais escura tua pele, mais grossos seus traços

Quanto maior sua identificação com sua descendência e seus laços

Maior é a pancada tanto física quanto mental que nos dão com o açoite

Fazendo o negro sangrar por dentro e por fora dia e noite

A escravidão não acabou só deixou de ser legítima

E até hoje ela existe só que transvestida

Bateram, mataram, estupraram açoitaram,

Abusaram física e mentalmente; desconfiguraram

E quando nós apelamos por nossos direitos mínimos por educação e por um professor

Se afastam com medo porque na quebrada sabemos mais nomes de armas do que de autor

E enquanto o discurso de que tudo associado ao negro é ruim é implantado.

Velam que nasci pendendo ao fracasso social por negligência do Estado.

Eu não sei exatamente quando as concepções começaram a mudar em mim

Eu só sei que tudo mudou quando me reconheci assim: neguin!

É muito louco ter que crescer pra aprender

Que você realmente poderia ser quem queria ser

É louco, desde pequeno sentir que parte de mim não devia ser como era

Aprendi a criar aversão ao meu ser diante das múltiplas esferas

Biológica, física, social

eram os aspectos que me deixavam mal

Lugar onde vivo, Cor da minha pele, tamanho do meu nariz, tipo do meu cabelo

E tudo incitado em nós com raízes no preconceito.

Sofremos castração psicológica

Nos auto mutilamos pra entrar na lógica

Criam em nós uma contra sugestão

A tudo que é natural em mim e nos meus irmãos

Desenvolvimento de mais uma criança negra com baixo autoestima

Que aprendeu a odiar seus traços, origem e a cor da sua pele com melanina

E olha que só falei de história e estética

E de como essa violência psicológica simbólica é frenética

Tem coisa demais dizendo pra gente se afastar de quem somos

Plantando ideia errada e reproduzindo na estrutura o como

Como eles acham que deveríamos permanecer

Tomando eles como norma e nós mesmos ficando à mercê

E em cima do termo “negro” tem muito mais do que essa construção

O que eu falei ainda é pouco, irmão.

E, mano. Teve treta demais no passado

Pra eu falar que sou "moreninho", "mulato" ou "pardo"

Eu não vim dizer o que tu tem que fazer ou cagar regra pra ninguém

Só vim dizer que demorei pra me reconhecer negro. Se conscientize também!

Se amem e amem seus próximos como um ato político, com consciência

E aí eles vão se assustar por não estar nos seus padrões a nossa resistência.


Ygor Peniche Maldonado




Foto: Panteras Negras (USA). Autoria desconhecida. Imagem ilustrativa adicionada pelo corpo editorial.


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Autor O KULA

Texto enviado como colaboração ao corpo editorial do KULA. O CEUPES não se responsabiliza pelo conteúdo veiculado em suas postagens, à exceção dos editoriais assinados.

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