Marielle vive onde existe esperança num mundo justo.



Seguir o legado de Marielle significa defender a atualidade das transformações radicais.

O Brasil tem na sua história a marca das desigualdades sociais e da incompletude da democracia. A crise atual que atravessamos revela que esses resíduos do passado ainda estão presentes e são determinantes. Mas é também no contexto desta última longa crise do capitalismo que os donos do poder impõe uma agenda ainda mais dura de retirada de direitos e aprofundamento da exploração dos trabalhadores. Não é simples, portanto, a caminhada para uma saída à esquerda de superação da crise econômica e política. Ela pede uma transformação radical da sociedade construída sob o pacto da Nova República.

A execução política da Marielle Franco, que comoveu e abalou o mundo, revela contradições estruturais da sociedade brasileira e contradições da conjuntura política - do período pós-golpe - em uma soma assustadora de aspectos os mais lamentáveis. Por um lado, a sistemática ausência do dito Estado Democrático de Direito para aqueles que vivem nas favelas e periferias, negros, pobres, mulheres e LGBTs. No Rio de Janeiro, é antiga a realidade das milícias nas favelas como poder paralelo, responsável pelo assassinato de incontáveis jovens. Os governos do PT - enquanto dirigentes de uma política de conciliação de classes e de proteção dos interesses de elites políticas e econômicas durante 13 anos - foram portanto, parte responsável pela continuidade de uma realidade desigual e opressora. A favela da Maré é nosso testemunho.

Na verdade, o Brasil não puniu seus ditadores, nem nunca se emancipou do seu passado oligárquico e autoritário. Aqueles que hoje estão nos governos são velhos associados de um pacto taciturno com as elites racistas da fundação do nosso país. Ao mesmo tempo, em 2016 o Brasil sofreu uma agressão crucial à sua já debilitada democracia. O governo golpista agora chefia uma política de maior fechamento do regime, atacando com mais força direitos sociais e democráticos e colocando o Rio de Janeiro sob a lógica da repressão militar.

Há, portanto, duas dimensões que convivem e que explicam a conjuntura: o tempo do passado que não chegou ao seu termo e o tempo presente da crise de 2008 que não encontra uma resolução. É por isso que nos últimos 10 anos sofremos com inegáveis retrocessos, mas também um novo patamar da luta de classes, marcada pelo desencantamento da população com a política vigente: Junho de 2013, Primavera Feminista, ocupação das escolas, greve geral e atos por justiça à Marielle. Foi nesse período também que novas expressões da política ganharam espaço e conquistaram a possibilidade de vocalizar os interesses dos 99% da população. Marielle é, definitivamente, a expressão mais completa da renovação política, pelo o que representava e porque defendia uma política de combate a esse sistema falido.

Temos agora duas responsabilidades: exigir justiça à Marielle e continuar o seu legado de construção de uma alternativa à velha política e à adaptação ao regime. Não podemos permitir que o medo seja maior do que a nossa indignação. A juventude, o movimento estudantil podem, seguindo o exemplo recente da luta dos servidores públicos municipais, se colocar em movimento para disputar os rumos da política por cima dos escombros de um fim de ciclo.

Foto: ASCOM


por Júlia Andrade Maia, do coletivo Juntos
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Autor O KULA

Texto enviado como colaboração ao corpo editorial do KULA. O CEUPES não se responsabiliza pelo conteúdo veiculado em suas postagens, à exceção dos editoriais assinados.

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